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Freud explica: 'Todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pela cessão da febre que chamamos de viver' — Foto: Arte André Mello

O fim pode ser também um recomeço

Cacá Diegues - Jornal O Globo - 25 de fevereiro de 2024

Só quero fazer filmes que ajudem as pessoas a viverem. Deus me livre de fazer filmes que façam as pessoas terem medo da vida


A civilização começou quando um daqueles Brucutus da Pré-História teve uma ideia e pediu à namorada: “Vira um pouquinho pra lá, minha nêga, vira. Vai, vira, meu amor”. Aí então tudo começou: a tecnologia e a curiosidade sobre o mundo. O conhecimento e o desejo.

Supondo por absurdo que a Terezinha do Menino Jesus seria parte desse momento, ela diria: “Mas eu quero o último lugar porque ninguém briga pelo fim da fila”.

A civilização começou quando um daqueles Brucutus da Pré-História teve uma ideia e pediu à namorada: “Vira um pouquinho pra lá, minha nêga, vira. Vai, vira, meu amor”. Aí então tudo começou: a tecnologia e a curiosidade sobre o mundo. O conhecimento e o desejo.

Supondo por absurdo que a Terezinha do Menino Jesus seria parte desse momento, ela diria: “Mas eu quero o último lugar porque ninguém briga pelo fim da fila”.

Eu, por exemplo, só penso em filmes, só quero fazer filmes que ajudem as pessoas a viverem. Deus me livre de fazer filmes que façam as pessoas terem medo da vida.

O Brasil já foi um excelente fornecedor de bases humanas para a fabricação de bonecos e exemplos de vítimas que chegavam a certo hábito. Em Pernambuco, durante a ocupação holandesa, adolescentes nacionais eram mortos para a retirada de rins e córneas. Na mesma época, os próprios ocupantes vociferavam contra os artistas, os desenhistas e os escritores, acusando-os de incentivar migrantes, sobretudo da Índia e da Rússia, a fazerem a mesma coisa e terem assim um programa nada original e instrutivo.

Sigmund Freud: “Todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pela cessão da febre que chamamos de viver”.

Aí o marido chega de repente em casa e flagra a esposa com o amante nu em seu quarto. Ela entrega ao amante uma lata de tinta para o amante fingir que estava pintando as paredes. “Quem é esse cara?”, pergunta o marido. “O pintor, querido”. “Mas ele está nu!”. “E você queria que ele sujasse a roupa de tinta?”, ela responde perguntando sua resposta. E ela explica: “E onde é que ele ia pendurar a lata de tinta?”.

O que incomoda em certo tipo de vanguarda é seu esforço dramático para fugir da vida, passar ao largo dela em nome de um esforço patético de exprimir algumas de suas aparências através da linguagem. O que me interessa, me atrai e me perturba em John Cage, por exemplo, não é o princípio do “piano preparado”, e sim o protesto que seu pensamento exprime contra aqueles que estão no mundo e percebem que a vida passa sem nada e eles não se exprimem em protesto contra isso.